quinta-feira, 11 de junho de 2020

você morreu

Você morreu.
Oi? Como assim?
Morreu. Não percebeu porque estava dormindo.
Tem certeza? Não estou sonhando?
Não: você morreu.
Mas eu não posso morrer. Eu tenho coisas importantes pra fazer.
Agora não dá mais. Seu tempo acabou.
Espere, deve haver algum engano. Eu estou bem.
Bem morto.
Porque não acredito em você?
Porque não quer. Está sendo como todo mundo. Muitos não aceitam e negam.
Mas se eu tivesse morrido não teria vindo algum parente meu me esperar?
É, mas ninguém apareceu. Fui designado pra te avisar, porque muitos mortos continuam achando que estão vivos. Isso acontece muito.
Eu tinha coisas a fazer. Eu precisava falar uma coisa com uma pessoa. É muito importante. Terminar uma obra.
Pois é...
Mas não dá pra gente chegar num acordo?!
Não dá. Morreu morreu.
Você não está me entendendo é muito Importante que eu complete minha existência. Eu tava no meio de algo muito importante, que simplesmente deixará de acontecer sem mim.
Lamento. Morreu e se fodeu.
Quero falar com o seu superior.
Ele nunca fala com ninguém. Invisível, não aparece, não explica.
Mas se eu morri, eu estou falando com você na morte?
Sim.
E pra onde vamos? Céu Ou inferno?
Ah, isso não existe. É apenas uma crença dos vivos. Chegam aqui e ficam meio frustrados que não há nenhum lugar pra se ir.
Isso não pode ser verdade!
Não pode? Porque você não quer? As coisas são como são.
Porque não seria justo...
Olha, você morreu. Eu fui designado pra te avisar...
Eu já sei, você já disse. Mas não aceito.
Hum...Se não aceita vira fantasma.
Como assim?
Fica preso. Numa irrealidade. Como num sonho ruim, que nunca termina.
Então o que faço?
Não faz, está morto.
Mas ainda tenho consciência.
Sim, só isso resta. Não tem mais corpo, não tem mais vida, necessidades, nada além, apenas consciência e memória. Além disso, nada é da sua conta. Você não decide nada. Se for pra você voltar, você esquecerá-se de tudo e tudo recomeçará, com um bebê em algum lugar do planeta.
E agora, o que eu faço?
Reflita sobre sua vida. Pense. Adeus.

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