minha crença é na descrença.

 Minha crença é a de que não acredito em nada. Creio que não creio. Não vim pra esse mundo pra acreditar. Minha mente é investigativa. Quero descobrir a verdade das coisas por mim mesmo, e não aceitar nenhuma tradição. Não me acomodo em crença, porque estou sempre à caminho. Com nada fecho questão. Não vim aqui pra crer mas pra aprender. A verdade ninguém pode te dar, nenhuma tradição ou religião. Pois é uma descoberta individual. Vejo muitos que creem estacionados na vida, sem ir além do lugar comum. Como posso eu saber da vida e da morte, do céu e do inferno se nem de mim eu sei? Por isso mesmo estou vendo que os que tem certeza das coisas são os mais equivocados. Esses que se encontraram se perderam. E eu que me perdi , ou encontro-me ou morro buscando.

dificuldades do artista

 Não é nada fácil ser artista. As pessoas vêem as coisas bonitas que fazemos e nem imaginam que por trás de tudo sempre existe alguma angustia. Não dá pra calcular o que passa na cabeça de uma artista quando faz sua arte. Como não é uma ciência exata, a arte é um tipo de invenção. Uma forma estética de expressão que é tão ilimitada, mas que o artista não pode abarcar tudo, apenas o parte da sua consciência em dado momento.

Assim como Músico que pratica tanto pra alegrar a platéia, quem saberá o custo de todo esforço, as dificuldades que ele teve que vencer pra dar seus frutos.

Livros então são ainda mais angustiantes. Como escrever sem sentir emoções? Como narrar qualquer coisa sem estar entrando num labirinto mental sempre em busca de saídas.

O artista não é tão útil à sociedade como o são todos os outros profissionais. Ele parece até alguém supérfluo. Que artista que não se sentiu um marginal? Quem não conheceu a pobreza e a miséria mesmo dando o seu melhor?

Mas por outro lado cabe ao artista dar sentido a vida. Porque o que seria de tudo sem arte? O mundo seria muito insípido e intragável. Quando nos sentimos um pouco vazios, nos refugiamos na música, literatura e artes em geral.

Pintar um quadro, por exemplo, pro diletante é uma terapia. Mas para o artista profissional é algo vital, donde extrai a sobrevivência. Portanto às vezes beira o drama e o desespero de sempre estar ali, tirando de dentro dos nervos o que mostrar.

Mas ser artista é um grande privilégio. A gente tem que agradecer por ter talento e capacidade de realizar coisas estéticas. Para mim o artista é um marginal inútil de certa forma, mas um herói também, por outro lado. Garimpa nas próprias trevas alguma luz, e troca por dinheiro e sobrevivência. As vezes passo coisas difíceis, mas não trocaria a minha vida pela de ninguém.

Sabe Deus?

 “Deus sabe a hora de cada pessoa...” Uma bela frase. Digo, uma bela merda de uma frase falsa. Por que nela está subentendido que quem diz isso sabe o que Deus sabe. Ora, e que importância pra nós teria tal frase, além de nos enganar a cerca da dinâmica dos fatos e das conseqüências das escolhas que fazemos? Se nossa hora estivesse marcada, no dia tal, sob tais circunstancias que merda fazemos no mundo senão cumprir um papel já determinado? Onde ficaria nosso livre arbítrio e todas as nossas escolhas? Do que valeria todo cuidado e proteção? Soa mais como uma mentira consoladora. Delegar o controle a Deus, “Deus no controle” de forma alguma nos furta de alguma responsabilidade pelo que fazemos da nossa vida. Seria o mundo e seus dramas um teatro de fantoches onde Deus brinca de ser todo poderoso? Ao delegar a Deus o controle, deixamos de ser autores dos nossos dias e nos tornamos personagens de uma grande farsa. Deus no controle o que mais é senão o desejo de controlar Deus?

Largue a culpa, disseram.

 “largue a culpa” disse alguém, como se as coisas fossem assim largáveis. “largue a culpa” como se a culpa fosse uma bagagem imprestável. Ora, no senso comum nem sempre há algum bom senso. Ou estarei eu errado em elogiar a culpa? Tal sentimento que nos abarca sempre que percebemos a cagada que fizemos, ali fica porque é funcional. Que seria da nossa mente sem a culpa? Seriamos psicopatas, doentes e em nós faltaria algo muito importante: a culpa. Culpa que clama pelo arrependimento, que por sua vez pode gerar uma mudança de comportamento e de curso. Mesmo que a pessoa pudesse largar a culpa, ela não deixaria de ser culpada. O inocente não aceita a culpa, mas ele não será inocente se for culpado. Sem a culpa estaríamos sempre ligados pra fazer o que bem entendêssemos sem nos preocuparmos com mais nada. A culpa é auto-julgamento. Faz parte do juízo da pessoa. Largar a culpa é algo muito cínico e auto enganoso. Porque a pessoa larga a culpa mas a culpa não o larga. Se perdoar implica em compreender que se fez errado, se arrependeu e se está se determinando a não cometer o mesmo erro. Ai sim, a culpa é superada. O erro principal de largar a culpa é achar que tudo passa, sendo que nada passa. Só aprende com a culpa quem a aceita.

1Claudia Botega

Depois do surto.

 Quando a gente surta e desabava, a revolta que sentimos, acabamos atraindo outras pessoas que sem voz pra publicar o que sentem, surgem pra se confessarem e contarem onde o bicho esta pegando. Há muita pressão dentro de todos nós, nalgumas fases da vida. Lidar com isso é tarefa para psicólogo e todos nós temos que ser psicólogos. Porque é urgente compreender a nossa mente. Dentro da gente está todo o turbilhão. O mundo lá fora apenas joga mais gasolina na fogueira que já ardia. A chave da compreensão está no Interior, sempre. Mas precisamos muito nos aconselhar com as grandes mentes, e é por isso que ler ou conversar com pessoas mais sábias é tão importante.

Eu digo que a loucura e o desespero são coisas que a vida apresenta a todos nalgum momento e que ninguém nesse mundo se torna sábio se não conhecer por dentro as grandes emoções que abarcam os que têm um mínimo de sensibilidade. Os refratários, os inabaláveis, esses sempre serão duros e jamais serão sábios. Porque o sábio venceu a si mesmo. Foi fundo. O desespero e a loucura são um referencial importantíssimo.

Se um dia me desespero no outro sou eu que peço paciência. As lições são duras, mas surtem efeito com o tempo. É preciso enfrentar o monstro emocional pra encontrar a verdadeira paz. Não dá pra contornar. Tem que se ver de frente e decidir certo. Por isso que depois do passar por tanta confusão, aconselhei umas pessoas que estavam na mesma vibração. E assim, me aconselhei também. Estamos juntos terráqueos, no mesmo barco, na mesma provação. Que vençamo-nos para que assim possamos vencer todo o mundo.

Pelos olhos dos outros.

 A gente as vezes se vê melhor pelos olhos dos outros. O outro às vezes é um espelho. Quando a gente se abre e é sincero, atrai muita sinceridade. Eu tenho escrito muitas coisas aqui e muitas vezes me sinto culpado de ter esse comportamento de me expressar aqui, as vezes visceralmente. Não sei se é pelo isolamento, pela falta de alguém pra conversar, que eu converso com quem quiser me ouvir, expondo o que penso e sinto. Tipo, pego um megafone e falo coisas que brotam das profundezas da minha mente. É um diálogo com o mundo.

Agora que me fragilizei com toda situação econômica, e me expus, fiquei muito surpreso de saber que eu sou muito querido. Eu como rebelde que sou sempre acho que incomodo muito. Mas tem gente que eu nem imaginava que me acompanha a anos. Pessoas de outros estados e até outros países me escreveram dando aquele apoio moral. Fui convidado pra passar uns tempos na casa de amigos, até em outros países. E teve gente que me pediu pra me ajudar mensalmente com os cães, comprando a ração.

Olha, eu precisei ficar bem triste e me sentir tão vulnerável pra saber que sou estimado ao ponto de receber uma chuva de generosidade.

Então a despeito de algumas besteiras que falo, alguma coisa ainda sobra e tem repercutido.

No espelho do outro, eu sou mais bonito que o meu próprio olhar ao que julgo ser eu. E assim começo a semana, com algum amor próprio valorizado. E muito agradecido. Uma excelente semana a todos!