sexta-feira, 17 de maio de 2019

O Fantasma

A casa está mal-assombrada. Num dos quartos, trancado, mora um fantasma. A casa tem vida. Mas quando ela dorme, algo se inquieta. Quando não se vigia, o fantasma passeia pela casa, pois não adianta trancar um fantasma num quarto, ele atravessa as paredes. Constatar o fantasma é um grande assombro. Vê-lo é um profundo incômodo. Mas até quando abriga-lo? Até quando dividir com ele o mesmo espaço? Não se pode ser integro vivendo com um espírito infeliz, deformado nos sentimentos mais íntimos. O fantasma foi uma vida que acabou tragicamente. Mas a casa o tem e ele tem a casa.
Nada mais resta pra resolver esse problema tão sério senão convidar o fantasma pra uma conversa. Sentar com ele, sozinho, olha-lo nos olhos, pedir seu perdão e perdoa-lo. A casa sempre é uma pessoa. E o fantasma dela, uma memória. Não se vence um fantasma se não tiver muito amor. Porque o fantasma nada mais é que um desamor que ficou, como uma ferida na casa. É preciso que essa espírito atormentado vá pra luz. Daí, o grande alívio. A limpeza. o quarto escuro iluminado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sintam-se livres para comentar. Agradeço a visita e volte sempre!